sábado, 7 de maio de 2011

juntos e misturados

Tecendo a manhã
João Cabral de Melo Neto, in A Educação pela Pedra, 1966

Um galo sozinho não tece uma manhã: 

ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele 

e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes 

e o lance a outro; e de outros galos 

que com muitos outros galos se cruzem 

os fios de sol de seus gritos de galo, 

para que a manhã, desde uma teia tênue, 

se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos, 

se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação. 

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

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